ATA DA SÉTIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO
LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 15.04.1999.
Aos quinze dias do mês de abril do ano de mil
novecentos e noventa e nove reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e vinte e
quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente
declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título
Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Gildo Vissoky, nos termos do
Projeto de Lei do Legislativo nº 161/98 (Processo nº 3162/98), de autoria do
Vereador Isaac Ainhorn. Compuseram a MESA: o Vereador Nereu D'Ávila, Presidente
da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor Daniel de Mendonça, representante
do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; o Senhor Newton Rosa,
representante do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul; o Senhor Eurípedes
Carvallho, representante do Sindicato Médico de São Paulo; o Senhor Gildo
Vissoki, Homenageado; o Vereador Isaac Ainhorn, 2º Secretário deste
Legislativo, proponente da Sessão. Ainda, como extensão da Mesa, foram
registradas as seguintes presenças: da Senhora Paulina Vissoky, esposa do
Homenageado; dos Senhores Gislaine, Jacques e Gerson Vissoky, filhos do
Homenageado; do Senhor Henry Vissoky, irmão do Homenageado; dos Senhores Israel
Lapchick e Telmo Kruse, respectivamente, Presidente e Vice-Presidente do
Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; do Senhor Henrique Henkin,
ex-Deputado Federal. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em
pé, ouvirem à execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos
Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Isaac Ainhorn, como
proponente e em nome das Bancadas do PDT, PTB, PMDB, PSB, PFL e PPS, analisou
os motivos que levam à proposta de homenagens como esta por Vereadores da
Câmara Municipal, tecendo considerações acerca da relevância dos serviços em
prol da comunidade prestados pelo Homenageado no exercício de sua profissão. O Vereador
Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, manifestou sua alegria em
participar da presente solenidade e discorreu sobre as atividades realizadas
pelo Senhor Gildo Vissoky, como médico e sindicalista, ressaltando sua
preocupação em valorizar a assistência médica à população de Porto Alegre. O
Vereador João Dib, em nome das Bancadas do PPB, saudou o Homenageado,
dissertando sobre o respeito e o reconhecimento que os porto-alegrenses têm
pela dedicação por ele demonstrada como profissional da medicina, salientando a
contribuição de familiares e amigos em sua história de luta e trabalho. Após, o
Senhor Presidente convidou o Vereador Isaac Ainhorn e o Senhor Daniel de
Mendonça, a procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título
Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Gildo Vissoki, concedendo a
palavra ao Homenageado, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor
Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem à execução do Hino
Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos
às dezoito horas e quatorze minutos, convidando os Senhores Vereadores para a
Oitava Sessão Solene, a ser realizada às dezenove horas. Os trabalhos foram
presididos pelo Vereador Nereu D'Ávila e secretariados pelo Vereador Isaac
Ainhorn, 2º Secretário. Do que eu, Isaac Ainhorn, 2º Secretário, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Nereu D’Ávila): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene, destinada a homenagear o Dr. Gildo Vissoky.
Convidamos
a fazer parte da Mesa Diretora dos trabalhos nesta tarde o representante do Sr.
Prefeito Municipal, Sr. Daniel de Mendonça; o homenageado, Dr. Gildo Vissoky; o
representante do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Dr. Newton Rosa; o
representante do Sindicato Médico de São Paulo, Dr. Eurípedes Carvalho.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvir o Hino Nacional.
(Executa-se
o Hino Nacional.)
Senhores,
dando continuidade a nossa Sessão Solene desta tarde, destinada à entrega do
título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Gildo Vissoky, vamos ouvir
o discurso do proponente desta solenidade, Ver. Isaac Ainhorn que falará em
nome das Bancadas: PDT, PTB, PMDB, PSB, PFL e PPS.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente; representante do
Prefeito Municipal, Sr. Daniel de Medonça; nosso homenageado, Dr. Gildo
Vissoky; representante do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Dr. Newton
Rosa; representante do Sindicato Médico de São Paulo, Dr. Eurípedes Carvalho;
Srs. familiares do nosso homenageado; nossos convidados; minhas senhoras e meus
senhores. Esta Casa, nos seus mais de duzentos e vinte e cinco anos de
existência, sempre teve uma presença marcante nos destinos de nosso País, de
nosso Estado e aqui, em nossa Cidade, ela é a expressão da representação
política de Porto Alegre. É dentro desta óptica que há mais de quarenta anos
outorga-se, através de lei municipal, a cidadania porto-alegrense àquelas
pessoas que na sua atividade se destacaram e foram, na avaliação desta mesma
representação política da Cidade, merecedoras da concessão do título honorífico
de Cidadão de Porto Alegre. Integram este colegiado figuras representativas das
mais destacadas atividades - econômicas, políticas, sociais e também
comunitárias - que, de alguma forma, colaboraram para o desenvolvimento social,
econômico e político da Cidade de Porto Alegre. Nesta galeria de cidadãos
honorários verificamos figuras extraordinárias da Medicina em nosso Estado, e
hoje, por lei municipal, a partir de uma decisão desta Casa, nós estamos
fazendo integrar esta galeria o Dr. Gildo Vissoky. Dentre médicos ilustres que
integram a condição de cidadão honorário desta Cidade, temos a figura do Dr.
Telmo Crusius, do Dr. Fernando Lucchese, e de tantos outros. Eu mesmo tenho a
honra de ter outorgado este título a uma ilustre figura da Medicina
rio-grandense que se encontra aqui, entre nós, o Dr. Flávio D’Agosto. Pois o
que nos levou a outorgar a cidadania porto-alegrense a este ilustre homem
santamariense que, há mais de quarenta anos, vive na Cidade de Porto Alegre,
com uma larga e extensa folha de serviços prestados à Medicina, à comunidade
médica e à comunidade porto-alegrense e rio-grandense, em todos os seus anos de
vida profissional, funcional e comunitária na nossa Cidade. Isso é o que o faz
uma figura singular e merecedora do reconhecimento do conjunto da nossa
comunidade, essa expressão se faz pela unanimidade dos Vereadores desta Casa
que outorgaram ao Dr. Gildo Vissoky o título de Cidadão de Porto Alegre. Fosse
apenas a sua contribuição como médico, como especialista na área da Medicina, o
seu estilo de exercer a sua função, com integridade, correção e altivez, isso,
por si só, já justificaria a concessão do título. O Dr. Gildo Vissoky é uma
figura que teve uma presença comunitária e sindical. Recordo-me, faço questão
de registrar, quando recém assumindo, no ano de 1986, ainda na condição de
Suplente de um mandato de Vereador nesta Cidade, lá na Câmara Municipal, que
funcionava na chamada Prefeitura nova, no 14º andar, fui visitado pelo Dr.
Gildo Vissoky. Eu era um iniciante nas questões municipais, nas complexas e
intrincadas questões da legislação funcional, do Estatuto dos Funcionários Públicos
Municipais, e lá estava o Dr. Gildo Vissoky, preocupado com as questões do
serviço médico, do atendimento aos porto-alegrenses, em relação à atividade
médica, bem como me alertando sobre questões envolvendo Projetos de Lei que
tramitavam relativos ao funcionalismo público municipal.
Foi
assim há treze anos, em 1986, nos meus primeiros dias de mandato como Vereador
desta Cidade, que tive oportunidade de estabelecer relações e ligações com o
Dr. Gildo Vissoky. Desde então, inúmeras vezes fui convidado a participar de
reuniões e debates no Sindicato Médico do Rio Grande do Sul sobre questões
envolvendo a categoria e o atendimento à saúde. Essa tão complexa questão tem,
na figura do nosso homenageado, um homem preocupado permanentemente com o
atendimento à saúde em nossa Cidade. Diariamente, Sr. Presidente, Srs.
Vereadores, essa é uma questão presente.
Sexta-feira,
na Sessão Plenária, o Ver. Cláudio Sebenelo, que também é médico, cobrava a
entrega dos relatórios pertinentes à saúde do último período do último ano.
Hoje, o Sr. Prefeito Municipal esteve nesta Casa fazendo entrega desses
relatórios.
Essa
integração de figuras com expressão na Medicina, na Câmara Municipal, faz-se
presente numa instituição que tem dado enormes contribuições a esse estudo, uma
instituição que funciona junto a esta Casa, que é o Conselho dos Cidadãos
Honorários, através do Dr. Israel Lapchik, odontólogo e Cidadão Emérito de
Porto Alegre, presidente desse Conselho, que tem, na questão da saúde, um dos
debates prioritários no âmbito desse Conselho.
Portanto,
sabemos, Dr. Gildo, que hoje integra essa galeria, o quanto marca em seu
coração, no seu sentimento, na sua alma este momento em que nós, Vereadores de
Porto Alegre, lhe outorgamos o título de Cidadão de Porto alegre, e certamente
esse reconhecimento será, indiscutivelmente, um estímulo para que o Senhor
continue nessa sua longa caminhada de contribuições e desempenho em prol da
nossa comunidade, em defesa da nossa Cidade e pela melhoria da qualidade de
vida na nossa Cidade, notadamente na área que o Senhor conhece profundamente
que é a área da saúde. Por isso, neste momento, nós nos orgulhamos de estarmos
presentes duplamente. Uma, na condição de autor desta homenagem, deste Projeto
de Lei, posto que se constitui numa lei municipal a outorga da cidadania
porto-alegrense, e, de outro lado, pela possibilidade de estarmos
confraternizando com o amigo, que é um idealista e um homem lutador, de grandes
causas comunitárias a serviço da nossa Cidade e do nosso Estado. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos referir as pessoas que são
consideradas extensão da Mesa: Sra. Paulina Vissoky, esposa do homenageado;
Gislaine, Jacques e Gerson, filhos do homenageado; Henry Vissoky, irmão do
homenageado; Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre, Sr.
Israel Lapchick; Vice-Presidente do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto
Alegre, Sr. Telmo Kruse; Dr. Henrique Henkin, ex-Deputado Federal; demais
familiares e amigos do homenageado.
Concedemos
a palavra ao Vereador Cláudio Sebenelo, que fala pela Bancada do seu Partido, o
PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) A minha presença na Câmara de Vereadores mexe muito com as minhas
emoções. Na semana passada, homenageamos, aqui, o Sport Clube Internacional e
eu fui à loucura. E hoje, vendo um ambiente maravilhoso, colegas com os quais
estamos juntos quase todos os dias - não vou citar nomes para não fazer
injustiça -, colegas que faz muito tempo que não vejo, e fico muito feliz em
encontrá-los num ambiente tão alegre e tão querido para nós, especialmente a
Dona Paulina, teus familiares, teus filhos - um dos quais é um grande
Ortopedista; teu irmão, Henry Vissoky, que é um querido companheiro e um velho confidente.
Caríssimo
Gildo, há muito tempo eu desejava bater um papo contigo, mas o nosso dia-a-dia
e a superdinâmica do teu trabalho - porque és um homem da tua época -, tem-nos
impedido uma charla em volta do fogo,
como o gaúcho campeiro chama. Mas hoje é o dia! Sei que o amigo é médico desde
os tempos antigos: do médico de família; da clínica particular que quase
desapareceu; da doação quase que sacerdotal dos antigos profissionais.
Como
a coisa mudou, 95% dos profissionais hoje da área médica são assalariados. Se
por um lado houve no inconsciente coletivo uma desidealização do médico, como
herói, como privilegiado, portador de um saber quase que sobrenatural e capaz
de usar um jargão ininteligível aos pobres mortais, por outro lado apareceu a
imperiosa necessidade da organização, da formação corporativa. E como as
corporações, Gildo, foram importantes na nossa história, na história do mundo,
do nosso País, e especialmente para o extermínio das servidões humanas!
Gostaria
de falar a vocês, do Dr. Gildo sindicalista, além de todas as atribuições, além
de todas as funções desenvolvidas, no exercício da Medicina, no seu dia-a-dia,
dos seus pacientes, dos seus empregos, das suas atividades, ele ocupou um cargo
que ninguém queria. Hoje, todos querem, não é Dr. Rosa? Antigamente ninguém
queria. No início do seu trabalho, no Sindicato Médico do Rio Grande do Sul -
na época moribundo -, e das conquistas que passaram a ser rotineiras com a sua
presença firme, organizada, essas conquistas passaram a ser não só rotineiras e
aqui eu evoco o testemunho do Dr. Flávio Agosto, como hoje nos tornamos uma
potência sindical em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Mesmo ainda longe do
ideal, mesmo com todas as vicissitudes de uma das mais nobres profissões, a
Medicina, enquanto o saber médico dispara, o médico perde a sua importância e a
sua formação massificada vulgariza a sua presença. A emergência de um grande
número de Faculdades de Medicina resulta no aviltamento de tão preciosa
mão-de-obra e nivela por baixo a avaliação do trabalho médico e sua
imprescindível relação com os nossos pacientes. É aí que emerge a sua
gigantesca contribuição como médico e como sindicalista voltado à humanização
da relação médico-paciente e por fim, neste País de tantos coitadinhos, de
tantos desgraçados, se alguma coisa progrediu foi, sem dúvida, a ação do médico
na favela, nos hospitais, nas comunidades, nas vilas, nos consultórios.
Sua
vida, Dr. Gildo, é um hino à dignidade do ser humano. Por isso, para essa
“charla” à beira do fogo, ao pé do ouvido, transformado num pronunciamento
público, escolhi este momento, o da outorga da sua Cidadania por Porto Alegre.
Quero
abraçá-lo como colega, amigo e Cidadão de Porto Alegre, Cidade que tanto deve a
esse exemplar ser humano que, além de tudo, com a sua liderança, brindou seus
colegas transformando-os em classe, com a dignidade dos fortes, dos
predestinados. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Sr. João Dib está com a palavra em
nome da Bancada do PPB.
O SR. JOÃO DIB: (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Sr. Presidente, Srs. Vereadores, queridos homenageados Gildo e
Paulina Vissoky, abraçando o meu amigo e colega de bancos escolares, Henry
Vissoky, eu abraço todos os familiares e amigos do nosso homenageado de hoje.
Quando
eu disse homenageados de hoje, Gildo Vissoky e Paulina Vissoky, alguns ficaram
me olhando.
Meu
caro Gildo Vissoky, há algum tempo, eu ouvi de um rabino uma história em que
ele dizia que alguém procurou uma pessoa sábia e disse que queria ser um homem
respeitado por aquilo que pudesse fazer de útil, por aquilo que pudesse
demonstrar de solidariedade e, enfim, pelo que a sociedade pudesse reconhecê-lo
como uma pessoa realmente importante. O sábio disse a ele que salvasse o mundo.
Ele disse: “Mas dentro de minha pequenez, como posso salvar o mundo?” O Sábio
disse-lhe que salvasse o seu país. Ele respondeu: “Mas é muito grande para que
eu o salve.” O sábio disse a ele que salvasse a sua cidade. Ele respondeu: “Não
tenho como fazer.” Então, salve uma vida, disse o sábio. E ele entendeu que se
salvasse uma vida e se cada um de nós também o fizesse, nós salvaríamos o
mundo. O nosso Cidadão de Porto Alegre já salvou muitas vidas, já trouxe muitas
vidas ao mundo e, mais do que isso, coordenou, presidiu uma plêiade de homens
extraordinários que, diariamente, como ele, salvam vidas. Isso seria o
suficiente para que a Cidade de Porto Alegre homenageasse alguém que não é seu
filho, como a maioria dos Vereadores também não são, prestasse-lhe esta
homenagem pelo que fez, pelo que é e, mais importante, pelo que ainda vai
fazer.
Eu
disse que os homenageados de hoje eram o Gildo e a Paulina, e, na verdade, é
assim, porque ninguém consegue fazer as coisas sozinho. O Gildo, estudante de
Medicina, que foi para o interior do Estado, enfrentou dificuldades, mas,
sempre quando a dificuldade maior chegava, tinha alguém para aplaudi-lo, lá
estava a Paulina e dali a pouco esse auditório foi aumentando, lá estava a
Gislaine, o Gérson, o Jacques e, então, aquelas dificuldades que o homem
enfrenta, sempre eram divididas e, portanto, muito menores. Por isso eu disse
que os homenageados de hoje eram o Gildo e a Paulina. Meu amigo Gildo, nos
conhecemos de longa data, como o meu amigo Henry, e quero dizer que este é um
momento importante na tua vida, pois ela é feita de momentos, e, a cada momento
que vivemos, coisas boas e ruins acontecem. Não existe felicidade nem
infelicidade; existem bons e maus momentos. Infelizmente, para nós, o número de
maus momentos é maior que o de bons momentos, porque o mundo não tem muita
solidariedade. Se houvesse solidariedade, teríamos mais bons momentos.
Felizmente, temos que guardar com muito carinho, com muito zelo momentos
extraordinários como este, em que a Cidade de Porto Alegre diz a um dos seus
médicos renomados: “Você é meu filho, você é cidadão de Porto Alegre”. E guarde
essa alegria no fundo do coração - e formulo votos para que não tenha -, mas se
tiver sentimentos não tão bons, tire um pouco dessa alegria e gaste: vai
compensar.
Encerro
meu pronunciamento como sempre faço, dizendo do fundo do meu coração: Saúde e
paz!
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Convido, neste momento, o Ver. Isaac
Ainhorn, proponente desta homenagem, para que faça a entrega do título ao Dr.
Gildo Vissoky, e também o representante do Sr. Prefeito para que entregue a
Medalha da nossa Cidade.
(Procede-se
a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre e da Medalha da
Cidade de Porto Alegre.) (Palmas.)
Concedemos
a palavra ao Dr. Gildo Vissoky.
O SR. GILDO VISSOKY: Sr. Presidente, Srs. Vereadores; Sr.
Daniel de Mendonça, representante do Senhor Prefeito Municipal; Dr. Eurípedes
de Carvalho, meu prezado amigo, representante do Sindicato Médico do Rio Grande
do Sul; Dr. Newton Rosa, antigo companheiro - não velho companheiro -, de lutas
e de trabalho, demais amigos e familiares que estão presentes. Não vou
nominá-los todos, mas quero dizer que é uma grande satisfação e uma grande
honra tê-los aqui.
Senhoras
e Senhores, este é um dia muito especial. Neste momento em que recebo, na
presença de autoridades, amigos e familiares, o título honroso de Cidadão de
Porto Alegre, sinto-me extremamente feliz, e confesso minha emoção e incontida
alegria. É a maior honraria que um cidadão, não nascido em Porto Alegre, pode
ambicionar. Então, questiono: o que leva o homem, consciente de sua cidadania,
a seguir o caminho difícil, mas apaixonante, da vida pública?
Sempre
admirei nos homens públicos a coragem com que eles se acostumam a lidar com a
tristeza, a incompreensão, e a miséria das classes menos favorecidas. É neste
momento que o homem engajado com a comunidade sente, de perto, o peso da
responsabilidade, e o seu poder. Vê-se, por isso, que poder e vida pública se
interrelacionam. Mas de que tipo de poder está-se falando? O poder que
oportuniza ao homem a realização de inúmeras atividades que poderão beneficiar
o próximo. Mas como já advertia o polêmico e famoso Cardeal Mazarin, em seu
Breviário Político, o homem que detém o poder, luta por ele, jamais deve exprimir
na face qualquer sentimento particular, “apenas uma espécie de perpétua
amenidade.”
Nesse
sentido tenho direcionado minha vida, conservando desde cedo essa espécie de
espírito de dedicação ao próximo. Nascido em Santa Maria, numa época em que o
médico de família era extremamente respeitado, admirado e bem-vindo quando
chamado, cresci sentindo o quanto era importante na hora do sofrimento, da
doença, a presença segura do médico. Isso me marcou profundamente nos primeiros
anos de minha vida. Lembro-me de uma cena de infância: minha mãe, quando um
filho adoecia, costumava solicitar a presença do nosso médico de família. Como
num ritual, aguardávamos o referido profissional com uma toalha branca,
cuidadosamente engomada, com uma pequena bacia com água fervida e um sabonete
ainda não utilizado. Passava-me, naquele momento, uma mensagem de extremo
respeito e gratidão pelo profissional. E a imagem que ficou ajudou a compor
essa vocação definitiva.
Ser
médico, engajado com a comunidade, paradoxalmente mergulhado no burburinho da
vida diária, atendendo a pessoas de todas as classes da Capital e da periferia,
a serviço do SAMDU - Serviço de Assistência Médica Domiciliar de Urgência -, ou
nos hospitais como cirurgião, ginecologista e obstetra, seduzido pela medicina,
essa forma pública de solidariedade humana.
E,
assim, os instantâneos se sucedem rapidamente como um jogo de imagens
justapostas; as projeções inevitáveis da passagem do tempo. E entre as mais
significativas fica a evocação irrecuperável de uma cidade: Porto Alegre.
Quando cheguei a Porto Alegre, no ano de 1941, andava-se pelas ruas sem nenhum
temor. Porto Alegre era tranqüila. Um clima de paz e sonho para um estudante de
dezesseis anos com tantos desafios a enfrentar. Filho de pai imigrante e de mãe
nascida na colônia de Filipson, ingressara no pré-médico do Colégio Júlio de
Castilhos à noite, já que durante o dia trabalhava no serviço de propaganda
médica para poder sobreviver.
Em
1944, iniciei os estudos na Faculdade Federal de Medicina do Rio Grande do Sul,
convivendo com a comunidade médica e com os problemas de saúde da população,
surgiram as primeiras idéias de fazer algo pela nossa Cidade. Só então
plenamente possível com a conclusão do curso de Medicina em 1949. Esse
engajamento e forte participação na comunidade marcaram todos anos de minha
vida profissional.
Por
uma dessas coincidências que ocorre na vida, em 1951, foi fundado, no interior
do Estado, uma seção regional da Associação Médica do Rio Grande do Sul.
Convidado a promover uma palestra e reunião científica naquela região, saiu
minha indicação para representante dos médicos da região no 1º Congresso da
AMRIGS. Posteriormente, minha atuação naquela entidade foi como Presidente da
Comissão de Defesa de Classe, já em Porto Alegre. Pouco tempo depois, já em
1958, fui convidado pelo diretor da Biometria Médica do Estado, hoje denominado
Departamento de Perícia Médica, para ser chefe do setor médico e,
posteriormente, coordenador.
Sentindo
a importância de criar uma entidade que congregasse os profissionais de nível
superior do Estado, fui o fundador, em 1961, da UTERGS - União dos Técnicos
Científicos do Rio Grande do Sul -, onde fui presidente por três gestões
sucessivas. Em 1964 foi igualmente fundada a FASPERS - Federação das
Associações dos Servidores Públicos do Estado do Rio Grande do Sul - cargo que
ocupei como seu primeiro presidente, e por três gestões sucessivas.
Da
mesma forma, não apenas por simples coincidência, mas na busca de um
engajamento com os problemas da comunidade, a conscientização dos médicos pela
melhoria das condições de saúde da população, iniciou-se a minha atuação no
Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, por volta de 1978. Na época era muito
difícil aglutinar os médicos. Não havia tantos problemas. Eles estavam, apenas,
começando a surgir. A Previdência estava tomando conta do mercado e os médicos
precisavam se unir para defender seus direitos. O Sindicato Médico precisava,
então, de alguém que conhecesse o Serviço Público Estadual - leis, estatutos,
etc. Eu, por dever de ofício, tinha a experiência e a obrigação de conhecê-los.
Foi assim que o saudoso Dr. Carlos Sá, então presidente do SIMERS, convidou-me
para resolver um assunto emergente na ocasião. A seguir, o Dr. Carlos de Sá fez
o convite para que fosse o seu vice-presidente na chapa da próxima eleição. E,
desde então, eu não me afastei do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul até
1998, ocupando, por eleições sucessivas, vários cargos, sempre atuando na
defesa da categoria e pela saúde da população.
Também
estive por muito tempo na área de ensino. Fui convidado pelo presidente da
Comissão de Residência Médica do Hospital Lazzarotto para trabalhar lá, num
momento em que queriam transformá-lo em hospital de ensino. Já estavam lá
alguns professores de nossas faculdades, e eu ficaria com a área de
ginecologia. Realizávamos um trabalho completo, tanto na área de atendimento
clínico como cirúrgico da especialidade, junto com os médicos residentes. Hoje,
sinto-me muito gratificado ao encontrar ex-residentes nos diferentes postos de
atendimento, quer em cargos de chefia, ou com pleno reconhecimento profissional
e entre seus pares.
Ao
finalizar, quero manifestar meu agradecimento às pessoas que, nesta trajetória,
foram solidárias com o trabalho de valorização de bens sociais, como saúde,
educação, e bem-estar social. Agradeço ao meu querido Vereador Isaac Ainhorn
pela proposição da concessão deste título, e aos demais Vereadores que deram
seu apoio. Quero agradecer, particularmente, a minha esposa Paulina, meus
filhos Jacques, médico, Gerson, advogado, e Gislaine, médica, bem como ao meu
irmão Henry, também médico, pela compreensão e amizade em momentos difíceis
dessa caminhada, principalmente pelas ausências no convívio familiar. E,
especialmente, agradecer aos presentes que neste momento dividem comigo a
alegria desta solenidade. Meus Amigos, mais uma vez, muito obrigado! (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ao darmos a saudação final a todos os
nossos convidados, amigos, familiares, Vereadores, que participaram desta
Sessão Solene para conceder o Título de Cidadão de Porto Alegre, ao Dr. Gildo
Vissoky os nossos mais empenhados agradecimentos.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvir o Hino Rio-grandense.
(Executa-se
o Hino Rio-grandense.)
Estão
encerrados os trabalhos da presente Sessão.
(Encerra-se
a Sessão às 18h14min.)
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